sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Amplificador Gradiente A1

Há muitos anos que venho procurando um amplificador Gradiente A1 em boas condições.

Quando achava um, o preço era proibitivo. Quando o preço era bom, a circuiteira estava toda fuçada.
Equação difícil.

Desencanei e deixei o tempo e a Natureza agirem.
Tirei os A1 do meu radar e segui em frente.

Final do ano passado, durante uma aula minha na ETI Lauro Gomes, falei com um aluno que gostava muito de alguns amplificadores brasileiros, especialmente do A1 da Gradiente.
De imediato ele me disse que seu pai tinha um para venda.
Como manda o manual do bom negociador, fingi não dar bola na hora. Passados uns dias, perguntei meio que sem compromisso, quanto seu pai queria pelo ampli. No ato me disse o valor (metade do valor de mercado para unidades naquele estado).

Fui ver o equipamento.
Tudo original, à exceção dos capacitores da fonte que haviam sido atualizados por EPCOS recentemente, em função de vazamentos de dielétrico das unidades Siemens originais, e a placa PCI 165 que é cópia exata da original Gradiente do limiter & delay.
A parte de pré e power estavam com tudo como havia sido soldado na fábrica da Gradiente em 198x.
Transistores originais e nunca haviam sido sequer tocados.

Perguntei se ele estava em ordem e recebi a resposta:
"- Funcionou perfeitamente durante anos comigo. Encostei-o pois comprei um PM-5000 e ficou durante 4 anos parado. Quando liguei há pouco tempo, o limiter entrou no modo de proteção e fica chaveando intermitentemente o tempo todo."

Pensei: o limiter entra em operação por dois motivos. Um, se o LM3900 e circuitos associados estiverem com defeito ou algum dos canais estiver em curto (= DC na saída).

O bom senso diria para não levá-lo. Tinha claros sinais de transistor de saída em curto. Mas uma coisa me chamou a atenção.
Quando a chave de 1/3 de potência estava ligada, o tempo de intermitência do chaveamento mudava. Se fosse um curto-circuito franco, isso não aconteceria.
Resolvi apostar.

Levei-o para casa e comecei a estudar o circuito para ver o que estava ocorrendo.

Isolei os canais e descobri qual provocava o Overload. Retirei-o do dissipador e liguei tudo de novo com ele fora do chassis. Testei todos os semicondutores e capacitores. Tudo OK. Medindo a saída problemática fazendo by-pass na proteção (coisa que desaconselho aos inexperientes e sem equipamento apropriado fazerem), descobri que aparecia +54,5Vdc nos bornes de saída.
Num circuito Classe AB ou B de pares complementares isso só acontece por dois motivos:
1) Transistor do rail positivo em curto (o que não era o caso) ou;
2) Circuito diferencial de entrada mandando fazer isto, já que os drivers estavam todos OK também.

Saquei a mosca-branca 2N3958 (dual low-noise J-FET), que todo mundo fala que é impossível conseguir e tem gente vendendo no ML por R$50,00 a peça, e descobri que estava OK. Usei um testador de semicondutores microcontrolado chinês que comprei no DX.com por US$12,00 e que já se pagou nos primeiros 5 minutos de uso no meu laboratório.

Tudo montado e preparado fui direto no R307, o trimpot Constanta de mais de 30 anos, que mostrou-se o vilão da história. A perna ligada ao terminal (-) do par diferencial de entrada estava desconectada do pino central do pot. Troquei o trimpot por outro de 100 Ohms tipo Cermet de 270° e tudo ficou OK. Custo final para trazer o maravilhoso Gradiente A1 original à vida: R$1,50.

Agora é ligar ao meu P1, que estava esperando pelo párceiro há uns 8 anos e curtir boa música.



Abaixo deixo algumas dicas e links para os apreciadores do Gradiente A1 que espero ajudem na manutenção destas preciosidades.

Diagrama de blocos. 


Preamp do VU esmiuçado.

Par diferencial de entrada. Tem a modificação (MOD) sugerida para bloquear a amplificação DC e estabilizar o offset. Não altera a qualidade sonora e evita desvios de setup do offset com as variações de temperatura. O circuito do ampli passa a responder a partir de 1Hz. (Caso alguma baleia ou elefante estiver ouvindo o A1...).

E um close-up na fonte e no LM3900 do Limiter & Delay.
Quanto ao esquema e ao texto da modificação é só procurar no Google que tem aos montes por aí.

3 comentários:

  1. Parabéns pelas dicas. Acho que o meu A1 que comprei está na mesma situação que o seu. Desmontei o canal crente que os TR de saída estavam em curto, mas para a minha surpresa todos os Toshiba 2SB e 2SD estão bons. Vou agora testar o par diferencial e já substituir o trimpot que "já deu o que tinha que dá". Um grande abraço.

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  2. Perfeito depoimento. Li todo o seu relato e matei o problema do meu A1 que comprei mês passado com o "canal queimado". Desmontei todo o canal de saída e para a minha surpresa todos 2SB e 2SD e também os drivers estavam bons. Com a sua contribuição fui direto no trimpot que estava praticamente aberto. Comprei hoje novos de 150R, pois não encontrei de 100R. Não testei o par diferencial FET pois ainda não tenho este testador. De qualquer forma tudo o que escreveu simplificou muito meu trabalho.

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